Francisco Calheiros, presidente da CTP, abriu a Cimeira com referência aos números positivos do turismo e lançando desafios ao Governo, sublinhando que a sustentabilidade do crescimento turístico depende de soluções rápidas para problemas estruturais: “O turismo português não pode crescer mais sem um novo aeroporto, porque a Portela está saturada. Não sabemos nada do processo há meses, e este silêncio preocupa.” O líder da CTP defendeu ainda a privatização total da TAP e realçou a importância da ferrovia, lembrando que apenas duas ligações de alta velocidade – Lisboa-Porto e Lisboa-Madrid – libertariam 40 voos diários do aeroporto de Lisboa.
Francisco Calheiros, presidente da CTP
Infraestruturas cruciais e uma visão integrada para o país
Em resposta, o Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, garantiu já ter pedido urgência na construção do novo aeroporto, assegurando que “a infraestrutura aeroportuária vai ser uma realidade”. Reforçou ainda o “propósito de dar um novo alento e uma nova capacidade aeroportuária ao país, correlacionada com infraestruturas rodoviárias e ferroviárias absolutamente essenciais para a mobilidade.”
Montenegro apelou a que ambiente, agricultura, indústria e turismo sejam integrados numa estratégia transversal e equilibrada: “O projeto de prosperidade e progresso não deve excluir nenhuma atividade. Se deixarmos segmentos para trás, contaminamos tudo o resto.” O chefe do Governo reafirmou também a prioridade à política migratória, à coesão territorial e ao reforço da competitividade económica.
Luís Montenegro, Primeiro-Ministro
Burocracia e competitividade: a reforma do Estado
Como keynote speaker, Gonçalo Matias, ministro adjunto e da Reforma do Estado, assumiu que a burocracia continua a ser um entrave à competitividade: “Hoje, são precisas 356 horas para abrir uma empresa em Portugal. Temos de deixar de ser o país do papel e do carimbo e passar a ser o país da confiança, da previsibilidade e da rapidez.”
O ministro anunciou reformas estruturais, incluindo simplificação legislativa, digitalização com recurso à inteligência artificial e a nomeação de um Chief Technical Officer (CTO) do Estado, figura central para garantir agilidade e que irá liderar a antiga Agência para a Modernização Administrativa, agora Agência para a Reforma Tecnológica do Estado. “É uma figura que existe noutros países digitalmente mais avançados, como é o caso da Dinamarca. É de maior importância porque garante que os sistemas do Estado funcionam com uma só voz, assegura a horizontalidade da resposta do Estado e salvaguarda algo que é fundamental na resposta, que é a interoperabilidade“, aponta Gonçalo Matias.
Reconhecendo o peso da burocracia para as empresas, anunciou a intenção do Governo de “aligeirar muito os procedimentos de licenciamento”, propondo um “contrato de confiança com os cidadãos e com as empresas”. Relacionou também a reforma fiscal em curso com a atratividade do turismo, recordando que a previsibilidade e a simplificação tributária “são determinantes para captar investimento, criar emprego e consolidar Portugal como destino competitivo e sustentável”.
Gonçalo Matias, ministro adjunto e da Reforma do Estado
Estratégia Turismo 2035: valor, competitividade e coesão
Pedro Machado, secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, apresentou as linhas mestras da Estratégia Turismo 2035, após os objetivos da Estratégia 2027 terem sido alcançados com três anos de antecedência. “Fazer crescer o turismo é fazer crescer o país, não só no plano económico, mas também no social e territorial.”
O governante destacou três grandes “drives” para a próxima década: crescer em valor, em competitividade e em coesão territorial, sempre com foco na sustentabilidade, inovação e na escassez de recursos humanos. Esta estratégia será apresentada ainda este trimestre e tem estado a ser desenvolvida em conjunto com todos os parceiros públicos e privados do ecossistema turístico.
No painel “Horizonte 2035: Turismo como motor da transformação da sociedade portuguesa”, reforçou que “há que tornar o turismo num pilar cada vez mais importante para o desenvolvimento sustentável e equilibrado de Portugal.”
Empresas e recursos humanos: o alerta da restauração
Rui Miguel Nabeiro, CEO da Delta Cafés, trouxe para o debate a realidade da restauração e os desafios levantados pela falta de recursos humanos. “Em 2025, pela primeira vez, vimos 33% dos restaurantes de Lisboa e 28% dos do Porto, pertencentes aos 45% de quota de mercado detida pela Delta, a fechar pelo menos 15 dias em agosto por falta de pessoal. Muitos preferem encerrar do que prestar um mau serviço.”
O testemunho confirma a escassez de trabalhadores no setor, problema já identificado pela AHRESP.
Painel “Horizonte 2035: Turismo como motor da transformação da sociedade portuguesa”: Pedro Machado (Secretário de Estado do Turismo); Miguel Maya (CEO do Millennium bcp;); Rui Miguel Nabeiro (CEO da Delta Cafés). Painel “Alentejo: Turismo, Cultura e Competitividade”: Maria do Céu Ramos (Associação Évora 2027); Rita Soares (Herdade da Malhadinha Nova); Carlos Abade (Presidente do Turismo de Portugal).
Cultura e coesão territorial
A dinamização dos territórios através da cultura foi reforçada por José Manuel dos Santos, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo: “Eventos e projetos culturais, como Évora 2027 – Capital Europeia da Cultura, são fundamentais para atrair novos fluxos turísticos e dinamizar os territórios.”
José Manuel dos Santos, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo
Na mesma linha, Maria do Céu Ramos, presidente da Associação Évora 2027, lembrou que “Évora 2027 não é apenas um título, mas um compromisso com metas culturais exigentes, definidas pela Comissão Europeia, que devem deixar legado – como a criação de um centro cultural de fins múltiplos, ainda sem financiamento garantido.”
Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, acrescentou que “a cultura é motor de competitividade regional”, destacando que já foram protocolados mais de 16 milhões de euros em 37 projetos turísticos vocacionados para os territórios do interior.
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República