O licenciamento da atividade para o arranque de uma empresa e as necessidades que o investimento financeiro acarreta foram os temas centrais da Jornada Regional do Norte, que a AHRESP organizou na Escola de Hotelaria e Turismo do Porto.
Subordinada ao tema “Desafios e soluções para o seu negócio”, este dia de debates, com onze oradores distribuídos por três painéis, reuniu representantes de entidades oficiais, especialistas, empresários e profissionais das áreas do Alojamento e da Restauração e Bebidas perante uma plateia de cerca de 200 participantes.
Nas conclusões desta Jornada, os intervenientes reconheceram, por um lado, a evolução positiva no que diz respeito aos processos administrativos e burocráticos do licenciamento das atividades, assim como do aumento das linhas de financiamento, mas por outro, a necessidade de uma articulação mais eficiente entre as entidades emissoras de pareceres e de uma simplificação nos processos de candidaturas às linhas de apoio financeiro.
Painel 1 – O LICENCIAMENTO DA ATIVIDADE
Moderador: Luís Castro, jornalista RTP e empresário
| Oradores: Carla Abreu, Turismo de Portugal | Carlos Teixeira, Arquiteto na HA+ | Manuel Oliveira, Gabinete Técnico Segurança contra Incêndios da A.M. Porto
Carla Abreu, Turismo de Portugal | “Sem dúvida que a desmaterialização dos processos administrativos, a simplificação administrativa foi o que mais mudou. Apesar de positivo, não resolve tudo, mas o facto de o empresário não precisar de se deslocar já é hoje uma grande vantagem. Todo o processo do licenciamento que tem a ver com o regime jurídico segue um princípio de simplificação administrativa e, embora, este caminho do licenciamento não seja fácil, certo é que melhorou bastante.”
Carlos Teixeira, Arquiteto na HA+ |“O Simplex, por exemplo, facilitou imenso no licenciamento da atividade, mas apenas quando se parte do pressuposto que o edifício se coaduna ao fim a que se destina. Muitas vezes, quando o promotor define um determinado espaço para o qual não serve só o licenciamento através do Simplex, é preciso fazer o licenciamento da edificação. Nesse caso o licenciamento implica que uma série de entidades tenham de prestar os seus pareceres, entidades essas que não se articulam entre si, ficando o promotor com essa responsabilidade de articulação. Tratando-se de entidades públicas, deviam articular-se entre si. O gestor de projeto que já existe a nível municipal podia ser alargado para as atividades económicas, porque por vezes o promotor anda como uma bola de pingue-pongue entre várias entidades, com pareceres distintos e de difícil articulação.”
Manuel Oliveira, Gabinete Técnico Segurança contra Incêndios da A.M. Porto | “As medidas de autoproteção que começaram a ser implementadas legalmente e obrigatoriamente nos edifícios novos em janeiro de 2009 assentam em três princípios: salvaguarda da vida humana, do ambiente e do património. Desde logo, se garantirmos a segurança da vida humana, estamos a garantir a sustentabilidade do negócio.
Painel 2 – INVESTIMENTO E FINANCIAMENTO DO NEGÓCIO
Moderador: Luís Castro, jornalista e empresário | Pedro Neto, Partner na Moneris | Carlos Abade, Vogal do Conselho Consultivo do Turismo de Portugal | Isabel Santos Silva, Marketing Empresas Millennium BCP | Marco Gonçalves, Diretor Comercial Norgarante
Carlos Abade, Vogal do Conselho Consultivo do Turismo de Portugal | “O Turismo de Portugal (TP), na sua função de promover o investimento e alavancar financiamento para as empresas gere um conjunto diversificado de instrumentos, como as linhas de crédito, fundos de capital de risco e fundos europeus. Na verdade, o aumento de financiamento aumentou a dívida, que não era um problema em 2019 para as atividades do setor. Em 2020 e 2021, as empresas tiveram necessidade de recorrera à dívida. Nesse sentido, o TP entendeu que teria de ajudar, principalmente, as micro e pequenas empresas a gerir este tema da dívida circunstancial.”
Isabel Santos Silva, Marketing Empresas Millennium BCP |“Aquilo que a banca precisa é de saber se o financiamento que está a ser pedido se destina a investimento ou a reforço de fundo de maneio, e também se a empresa tem ou vai ter capacidade de libertação de meios para satisfazer esse serviço de dívida. É do lado das empresas que a qualidade dos projetos que querem implementar é fundamental. Em suma, quando nos chegam os projetos, eles têm de estar muito bem definidos no que diz respeito à estratégia.”
Marco Gonçalves, Diretor Comercial Norgarante |“A nossa missão é fazer com que a dimensão das empresas e ausência de garantias não seja um problema para que os projetos se concretizem. Uma das coisas que sentimos é que o cumprimento pós-pandemia das linhas covid tem sido muito positivo, embora eu acredite que as empresas saíram da pandemia com liquidez. Ainda assim, também acredito que vai continuar a haver alguma pressão no reembolso destas operações neste e no próximo ano porque os prazos são muito curtos.”
Pedro Neto, Partner na Moneris |“É essencial termos uma noção do estado da arte do nosso negócio e do que queremos fazer para o alavancar. Se houver financiamento para suportar esta nossa necessidade, excelente. Mas primeiro temos de ter uma noção do que queremos. É contraproducente irmos à procura do sítio onde há dinheiro para sabermos para onde vamos.”
Painel 3 – A EXPERIÊNCIA DO EMPRESÁRIO
Moderador: Luís Castro, jornalista e empresário | Rui Paula, Chef DOC, DOP e Casa de Chá Boa Nova | Pedro Mesquita Sousa, CEO da MS Hotels | João Alves, Innkeeper | Francisco Antunes, Fé Wine & Club
Rui Paula, Chef DOC, DOP e Casa de Chá Boa |“Abri o primeiro restaurante com 26 anos, sem sócio, e agora só tenho um sócio que é o meu irmão. Para se fazer isto temos de agarrar as oportunidades e é preciso sabermos bem o que queremos fazer. Também não devemos pedir dinheiro sem ter uma base. Primeiramente, temos de contar connosco e ser empreendedores. Temos de saber agarrar a oportunidade, mas sempre com os pés bem assentes na terra, só assim é que o negócio pode dar certo. Claro que a restauração não é fácil, não dá assim tanto dinheiro quanto parece, tem de ser bem gerido, não pode haver desperdícios e tem de ter um bom serviço de vinhos, de sala e a comida tem de ser muito boa. E depois disto tudo gerido, vai dar um bocadinho de dinheiro. Não pensem que a restauração dá milhões, porque não dá.”
Pedro Mesquita Sousa, CEO da MS Hotels |“Tive uma experiência profissional, durante mais de uma década em África, em Angola e São Tomé e Príncipe, mas sobretudo em Angola. No meu regresso a cem por cento para Portugal, vinha com muitas expectativas, porque vinha de um país de terceiro mundo, com grandes problemas sociais e económicos. Mas, espanto-me eu, que já tinha outras empresas de âmbito familiar em Portugal, que cá temos muita coisa parecida com África. Ser empreendedor em Portugal é uma loucura. Não há um dia da minha vida em que eu não pense ‘o que é que eu estou a fazer?’. E é preciso ter noção de que não há projetos cem por cento financiados, porque, quem quiser fazer um projeto cem por cento financiado, está morto à nascença.” Veja o balanço das jornadas do também vice-presidente da AHRESP e presidente da delegação do Porto.
Francisco Antunes, Fé Wine & Club |“Foi em São Paulo que me despertou o ‘bichinho’ da restauração. Há 11 anos abri o Fé Wine & Club, um bar mais puro, em que tento estar aberto a partir das cinco da tarde para não depender só da meia-noite às quatro da manhã. Tenho cerca de 65 funcionários, entre estes e outros projetos que também tenho em Vilamoura. Mas já estamos preocupados com a forma como vamos segurar estes profissionais. Porque realmente é muito difícil, com os impostos que temos, reter os trabalhadores.”
João Alves, Innkeeper |“Fazemos gestão de propriedades em todo o país, temos escritório em Lisboa e no Porto e empregamos cerca de 35 pessoas. Já vamos a caminho das 300 propriedades em gestão e estamos espalhados por todo o lado. Neste painel, o que penso que é preciso enaltecer é a resiliência dos empresários. Apesar de todas as barreiras, temos esta capacidade de resiliência e de ‘nacional desenrascanço’.”