Conferência Mercado de Trabalho | Contributos

Mai 3, 2022

Decorreu a 20 de abril conferência AHRESP ‘Mercado de Trabalho: Que profissionais teremos amanhã?’ no Salão Nobre da Alfândega do Porto. Empresas, especialistas, decisores e estudantes refletiram sobre como atrair e reter talento para os setores HORECA

Carlos Moura (Vice-Presidente da AHRESP) na Sessão de Abertura da Conferência ‘Mercado de Trabalho – Que profissionais teremos amanhã’: “Porque planear é crucial, propomos a elaboração de um ‘Livro Verde do Mercado do Trabalho HORECA’”

 

Com uma perda de quase um terço de trabalhadores em dois anos, os setores HORECA carecem de ações urgentes para atrair talento. Agir em várias frentes em paralelo, nomeadamente nas áreas da demografia, formação e valorização das profissões, emergiram como os conceitos-chave de um setor que tem ainda muito para fazer para combater a escassez de recursos humanos.

Assim, a AHRESP juntou num intenso dia de debate empresas, especialistas, decisores, mas também estudantes e futuros trabalhadores para debater temas como Práticas no Mercado de Trabalho europeu; Como Atrair e Reter Profissionais; ou os Condicionalismos na Contratação. O Magazine de Negócios AHRESP deixa a síntese dos principais contributos da Conferência ‘Mercado de Trabalho: Que profissionais teremos amanhã?’.

© Fotografia: Nuno Martinho

MT_Carlos Moura

Carlos Moura | Vice-presidente da AHRESP

“Como valorizar e dignificar o trabalho é uma tarefa de todos: das empresas, dos alunos, dos profissionais, das autarquias, do Estado, dos sindicatos. O turismo é uma atividade com futuro. A economia nacional depende muito desta atividade, por isso temos que ter os melhores profissionais e todos temos que saber como é que os atraímos e como é que os retemos talento. Num futuro próximo é preciso fazer um estudo e uma análise sobre quais devem ser as profissões do futuro nas atividades do turismo, quer na restauração e similares quer no alojamento turístico. Porque planear é crucial, propomos a elaboração de um ‘Livro Verde do Mercado do Trabalho HORECA’, para, de forma clara e precisa, se identificar as atuais carências do mercado, quer em termos de quantidade de recursos humanos, quer em termos da sua qualificação. Só assim poderemos identificar as melhores e mais adequadas soluções para mitigar a escassez de profissionais e atrair talento para os nossos setores de atividade.”

MT_Catarina Santos Cunha - Vereadora do Turismo e da Internacionalização da CMP

Catarina Santos Cunha | Vereadora do Turismo e da Internacionalização da Câmara Municipal do Porto

“O turismo é de facto muito importante na atividade económica exportadora de Portugal representando 15.3% das exportações de bens e serviços e é também um fortíssimo fator de desenvolvimento regional na medida que nela intervém numa multiplicidade de áreas e agentes. De forma direta, o turismo contribui para cerca de 6% do emprego total no nosso país, representando cerca de 282 mil pessoas no quarto trimestre de 2020. Assiste-se presentemente a uma escassez significativa de mão de obra no setor turístico. As crises oferecem grandes oportunidades e temos que ser capazes de as agarrar, mas também de respeitar e ir ao encontro das legítimas aspirações e ambições dos profissionais que querem e merecem melhores condições a acompanhar os ganhos de todo o setor.”

MT_Miguel Fontes - Secretário de Estado do Trabalho

Miguel Fontes | Secretário de Estado do Trabalho

“Criar condições a nível de redistribuição de riqueza e de melhores remunerações não pode ficar para segundo plano: em Portugal somos confrontados com salários historicamente baixos, temos hoje um gap com a União Europeia que não nos é favorável, também a nível de competitividade. Esse modelo esgotou. Em pouco tempo deixamos de falar em trabalhadores para passarmos a falar em talento: isto significa  o reconhecimento coletivo, enquanto sociedade, da centralidade que a função trabalho desempenha nas nossas sociedades. Finalmente reconhecemos que não estamos apenas a falar de um custo de produção, mas de talento e isto é central no mundo em que vivemos. Estamos a colocar no centro das nossas preocupações a procura pela excelência do desempenho e reconhecemos que as organizações são feitas a partir de pessoas e das suas qualificações, dos seus desempenhos, das suas competências. Isso é uma nota absolutamente crítica se quisermos refletir sobre o presente e sobre o futuro do trabalho.”

MT_Inácio Ribeiro – Vice-Presidente da ERT Porto e Norte de Portugal

Inácio Ribeiro | Vice-Presidente da ERT Porto e Norte de Portugal

“Temos hoje um bom problema: o baixo nível de desemprego, que em fevereiro se situou em 5,8%. Mas isso não nos deve distrair do que é essencial: valorizar as pessoas, e tornar as profissões do turismo mais reconhecidas, o que não passa só pela valorização salarial, mas por terem melhores perspetivas de carreira.” 

MT_Luís Araújo

Luís Araújo | Presidente do Turismo de Portugal

“Todos os países europeus têm as mesmas preocupações, os problemas são comuns, estamos todos no mesmo barco. O foco deve ser em três áreas: a DEMOGRAFIA, a FORMAÇÃO e a ATRATIVIDADE do setor. É essencial trabalharmos nas três vertentes em paralelo, e uma não pode ficar nem dependente nem independente da outra. A formação é importante a qualquer nível, não é só no ensino superior. Quanto mais educação e formação melhor, mas temos que começar por algum lado. Os recursos humanos e as pessoas têm que ser um investimento e enquanto não percebermos isto, estamos completamente a milhas do que é essencial e como agir na mitigação da escassez de pessoas para trabalhar no turismo. Isto é uma questão de responsabilidade nas esferas pública e privada, mas também é uma responsabilidade pessoal.

MT_Luísa Pinho – Senior Account RANDSTAD Portugal

Luísa Pinho | Senior Account RANDSTAD Portugal

Trabalhar no turismo é muito duro, é uma maratona. A valorização salarial é essencial, sendo essencial conseguir formas de proporcionar um equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal.”

“Detetar o talento sempre foi a eterna questão, mas a grande dificuldade é efetivamente atrair esse talento e depois retê-lo e capitalizá-lo para os projetos que temos. que os trabalhadores mais valorizavam antes da pandemia não é o mesmo de agora. No pré-covid era salário, salário, salário. Mas o paradigma mudou. O que os últimos estudos nos dizem é que o fator predominante para 79% dos inquiridos em Portugal é a flexibilidade – que inclui a horários adequados para poder haver um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, poder ir ao ginásio ou poder estar com a família.”

MT_Mónica Gonçalves – Diretora-Geral do Hilton Porto Gaia

Mónica Gonçalves | Diretora-Geral do Hilton Porto Gaia

“Há que valorizar as categorias profissionais, quer seja com a alteração da sua própria nomenclatura, impulso nos salários ou regalias: e é preciso perceber quanto às regalias o que para uns é importante para outros não é. O que é que podemos fazer para melhorar é o que está em cima da mesa hoje em dia e não é igual para todos. Para uns é muito importante o seguro de saúde, para outros se calhar são as despesas com transporte. A grande responsabilidade que tem uma equipa de recursos humanos tem que ser cada vez mais importante, não é um mero recrutamento, tem que haver mais interação e mais preocupação para conseguirmos que as pessoas se sintam bem e fiquem connosco.”

MT_Carlos Diez de la Lastra - Diretor-Geral Les Roches Marbella

Carlos Diez de la Lastra | Diretor-Geral Les Roches Marbella

“Atualmente temos uma autêntica guerra pelo talento não só na Europa, mas em todo o mundo. A principal limitação do crescimento do turismo no futuro não é o dinheiro porque há muito investimento e cada vez mais, mas sim o talento para poder nutrir projetos no futuro. Temos que ter consciência de que o trunfo que temos para competir está na qualidade do serviço que podemos oferecer o que está profundamente enraizado na qualidade da experiência que um turista tem em qualquer destino: e isto tem a ver com as nossas pessoas. Não só no setor da hotelaria, mas muitas marcas de luxo e empresas estão à procura de talento e vêm recrutá-lo à nossa escola. O setor turístico tem que perceber que cada vez é mais difícil contar com talento e as grandes companhias estão a perceber que o valor e a diferenciação estão nas pessoas e no customer service.”

MTVlademiro Duarte – Responsável pelos Gabinetes de Apoio e Inserção Profissional, Ensino Superior e Qualificação do Alto Comissariado para as Migrações

Vlademiro Duarte | Responsável pelos Gabinetes de Apoio e Inserção Profissional, Ensino Superior e Qualificação do Alto Comissariado para as Migrações

“2021 foi o ano com mais entrada de cidadãos migrantes em Portugal e esta pode ser parte da resposta relativamente às dificuldades de recrutamento para a área da hotelaria porque no fundo os cidadãos estrangeiros foram aqueles que estão a sofrer mais com o impacto da pandemia e da crise vendo drasticamente a diminuição das suas oportunidades de trabalho, vendo o crescimento da precarização das relações laborais e das suas fragilidades contratuais, o aumento do desemprego a nível do contexto nacional, sem falar no aumento da distância da sua remuneração face aos trabalhadores portugueses a nível local. As migrações assumem um papel fundamental para o equilíbrio das economias sustentáveis e por isso torna-se importante as entidades perceberem que existem cidadãos que estão no país em busca dessa oportunidade e que talvez essas oportunidades não estejam a chegar às identidades que podem efetivamente ajudar.”

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