A História de Portugal ensina-nos que é a partir da base que se constroem as grandes transformações. E, quando falamos de base, falamos inevitavelmente das autarquias, do poder local, dos municípios e freguesias que conhecem de perto os rostos, os nomes e as realidades daqueles que servem. Num país onde se debate tanto o que está “lá em cima”, é importante lembrar que o que verdadeiramente nos sustenta é o que acontece “cá em baixo”.
O poder local tem uma missão insubstituível: garantir que as políticas públicas ganham forma no território. É nas autarquias que a proximidade acontece — e é essa proximidade que permite transformar diagnósticos em ações, problemas em soluções e intenções em realidade. Enquanto presidente da AHRESP, vejo diariamente como esta ligação entre os municípios e os setores da restauração e similares e do alojamento turístico pode ser determinante para o sucesso económico e social das comunidades.
Os nossos empresários precisam de sentir que não estão sozinhos. Que há quem compreenda os seus desafios, que conheça o seu esforço diário e que esteja disponível para cooperar, não para impor. As câmaras municipais, juntas de freguesia e demais estruturas locais têm uma oportunidade e uma responsabilidade: contribuir para criar territórios vivos, dinâmicos e sustentáveis — e isso passa, inevitavelmente, por apoiar quem investe, cria emprego e promove os nossos produtos e a nossa cultura.
Um país equilibrado e justo não se constrói apenas a partir da capital, mas sim multiplicando centros de vitalidade por todo o território. Um país funcional é aquele onde cada vila tem voz, cada freguesia tem oportunidade e cada município tem um papel protagonista no desenvolvimento.
Na AHRESP, valorizamos profundamente o papel das estruturas políticas locais. São parceiros naturais. Apoiamos e colaboramos em inúmeras iniciativas em que a proximidade faz toda a diferença: programas de formação, rotas gastronómicas, plataformas nacionais estabelecidas em concelhos longe do centro, eventos e estratégias de valorização de produtos endógenos, assim como a criação de espaços de atendimento e apoio aos empresários das diversas regiões do nosso país, de norte a sul, de este a oeste, incluindo ilhas. Afinal, os empresários do interior não têm os mesmos desafios que os do litoral. Os estabelecimentos não vivem a mesma realidade dos de uma capital. As soluções têm de ter rosto, sotaque, sabor local.
A restauração e o alojamento são, para muitos municípios, motores de desenvolvimento. Não apenas porque geram emprego e riqueza, mas porque são, muitas vezes, a montra da identidade local. Um restaurante que serve um prato típico, uma casa de turismo rural que acolhe viajantes com saberes e sabores da terra, são veículos poderosos de cultura, de coesão e de orgulho. E são também âncoras contra a desertificação e o despovoamento.
Um país equilibrado e justo não se constrói apenas a partir da capital, mas sim multiplicando centros de vitalidade por todo o território. Um país funcional é aquele onde cada vila tem voz, cada freguesia tem oportunidade e cada município tem um papel protagonista no desenvolvimento.
Na AHRESP, acreditamos que o futuro passa, precisamente, por esses lugares onde Portugal é mais autêntico, mais próximo, mais humano. É nas pequenas localidades que se guarda o saber, se preserva a tradição e se constrói, todos os dias, a verdadeira grandeza de um país. Porque, no fim de contas, é lá que Portugal não só resiste — como floresce.
Artigo de opinião assinado por Carlos Moura, presidente da AHRESP, no suplemento do Diário de Notícias e Jornal de Notícias “PODER LOCAL: QUEM É QUEM”