Entrevista a Cláudia Monteiro de Aguiar | Eurodeputada e Presidente da task force do Turismo do Parlamento Europeu

Jun 6, 2022

“Sou apologista de Menos Estado, Melhor Estado: os governos devem apoiar as empresas, mas deixar os privados funcionarem e não criar entraves”: à margem da Conferência 'Transição Digital - Digitalizar sem Desumanizar', Cláudia Aguiar defende também algumas medidas de fundo em termos europeus para prevenir crises da magnitude da pandemia que abalou profundamente o turismo em termos globais. Saiba quais

Em entrevista ao Magazine de Negócios AHRESP, Cláudia Monteiro de Aguiar, Eurodeputada e Presidente da Task Force do Turismo do Parlamento Europeu fala dos efeitos económicos e sociais de dois anos de pandemia nas empresas e a forma de se salvaguardar de impactos tao devastadores no futuro.

A nível europeu, debate-se o processo de transformação digital com a tónica nos processos (agilizar), pessoas (formar ao longo da vida e aumentar a literacia digital e ambiental) e tecnologias (colocar ao serviço das empresas, dos destinos para que o turista tenha uma oferta mais orientada ao que procura).

Saiba como a Europa está a funcionar para ajudar os países e as empresas a passarem por um processo de profunda transformação, que tem no digital uma componente transversal.

O Governo podia fazer muito mais pelo turismo: PRR muito aquém

Em outubro de 2021, Cláudia Monteiro de Aguiar perspetivava ao Manual de Negócios AHRESP o futuro próximo do Turismo Europeu e nacional. Apesar de muito se ter passado em oito meses e as perspetivas de recuperação serem muito animadoras, com o Turismo a alavancar a economia portuguesa – uma vez mais! -, há questões que ainda se mantém muito atuais. É o caso do Plano de Recuperação e Resiliência. Vale a pena revisitar os comentários da Eurodeputada.

Em Portugal, o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) foi muito criticado por absentismo de medidas para a área do turismo. Pensa que de alguma forma este défice de referência de medidas estruturantes para o turismo foi compensado com o Plano Reativar o Turismo | Construir o futuro?
Continuamos a ouvir do setor que os apoios não chegam e são burocráticos. Ouvimos que a Europa nada faz. Mas a União apresentou o Next Generation EU, apresentou o Programa SURE para atenuar os riscos de desemprego e disponibilizou também o Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização para apoiar os trabalhadores, a par dos fundos estruturais e de investimento do quadro anterior, bem como a flexibilização das ajudas de Estado no início da crise.
O PRR, além de muito focado na administração pública, não contempla um plano específico para relançar um dos setores mais importantes da economia portuguesa. Fá-lo sempre de forma indireta. Na última versão, é alocada uma verba para a Cultura e restauro do património. A “bazuca”, que tanto evoca o Primeiro-Ministro, não é garante de desenvolvimento, bem pelo contrário, mais dinheiro não significa mais desenvolvimento, se não for aplicado em investimento produtivo com efeito multiplicador na nossa economia, o que não parece ser o caso do PRR português.

Quanto ao Plano Reativar o Turismo | Construir o futuro este deveria ser um complemento ao PRR de investimento público português, mas como poderão ver no próprio plano o mesmo cinge-se aos apoios europeus. Acredito que o Governo poderia fazer muito mais pelo setor.

Por ocasião do Dia Mundial do Turismo, o Presidente da República referiu que Portugal tem uma oportunidade histórica para ser líder inovador em alguns setores de atividade, designadamente o turismo. Mas deixou no ar uma crítica de que as medidas para o setor estão muito concentradas no Reativar o Turismo | Construir o Futuro e menos no PT 20/30, mais lato no tempo. Como comenta os Programas e fundos que estão destinados para a recuperação da atividade no curto e no longo prazo?

Volto a sublinhar a crítica que referi anteriormente, o PRR é parco para o setor do turismo e viagens. Além de outra característica: centra-se maioritariamente no litoral do país. As negociações do Acordo de Parceria estão a decorrer para a aplicação do financiamento do quadro financeiro plurianual 2021-2027. Reconheço o empenho da Secretária de Estado do Turismo, cujo desempenho tem sido importante do ponto de vista da defesa do setor. Mas não basta apenas defender, é preciso entregar. Estou confiante no seu desempenho em colocar o Turismo como prioridade neste acordo de acordo, nos programas operacionais e nas estratégias de especialização inteligente. O financiamento do atual quadro financeiro 2021-2027, em complemento com o PRR e outro financiamento direto da União, como por exemplo o Horizonte Europa, Europa Digital, Mercado Único, devem ser canalizados para o aumento da competitividade das empresas do setor.

Como vê o turismo nacional em 2030?
Com todas estas oportunidades de financiamento, espero que não percamos mais oportunidades. Que haja seriedade no investimento, em projetos realmente diferenciadores e que deem oportunidade a um Turismo mais inteligente, digital, inclusivo e social.
Obviamente que existem inúmeras incertezas, hoje os processos de automação e digitalização acontecem a um ritmo estonteante. Quem não apanha o comboio fica para trás. Por falar em comboios: espero ver para o turismo nacional em 2030 uma aposta verdadeiramente empenhada na ferrovia, com linhas e comboios dignos de um País que não quer estar na cauda da Europa.
Porque se optou por uma estratégia de reestruturação da TAP financeiramente exigente, espero que esta possa ser uma companhia com um serviço público de qualidade, que sirva o país como um todo, motor de coesão, incluindo os ilhéus, num espírito de concorrência salutar com outras companhias aéreas, que permitam a melhoria contínua dos serviços e o desenvolvimento de Portugal.

Veja a entrevista completa no Manual de Negócios AQUI.

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