Carlos Moura: “Resiliência e Esperança estão no ADN dos empresários dos setores HORECA”

Mai 9, 2022

“Cair sete vezes e levantar oito”. Juntos, seremos assim. Entrevista a Carlos Moura, Vice-Presidente da AHRESP, à margem da Tomada de Posse dos Órgãos Sociais da AHRESP para o Triénio 2021-2024

Carlos Moura (Vice-Presidente da AHRESP) “Temos a resiliência no ADN: um trabalho árduo pela frente para responder aos desafios que as nossas empresas enfrentam”
© Fotografia: Nuno Martinho

O provérbio japonês a que Carlos Moura recorreu no encerramento da Cerimónia de Tomada de Posse dos novos Órgãos Sociais da AHRESP para o triénio 2021-2024, encerra duas mensagens cruciais do mandato que agora é iniciado: RESILIÊNCIA e ESPERANÇA. É com esta postura que, agora reconduzido como Vice-Presidente da AHRESP, abraça o novo período na Direção da maior associação empresarial do País. Em entrevista, faz o balanço dos tempos mais duros de sempre para as empresas da restauração e do alojamento, e perspetiva o novo triénio centrado em três eixos fundamentais – Empresas, Pessoas e Gastronomia – para apoiar os negócios do canal HORECA nos desafios do futuro.

“O turismo foi uma atividade exemplar no período difícil da Troika e pode voltar a sê-lo. Mas temos de o apoiar nesta reta final. Face à resiliência dos empresários até à data, é o caminho mais sensato. De outra forma, é deitar tudo a perder”

Com a pandemia a afetar, sem precedentes, a atividade do turismo e muito em particular as atividades económicas da restauração e alojamento turístico, o que destaca da intervenção da AHRESP neste período?
O anterior mandato foi marcado por uma pandemia que nos colocou à prova e nos fez superar os nossos limites. A resiliência das nossas empresas foi admirável. Atrevo-me a dizer que nunca, em tempo algum, passaram as nossas atividades económicas por uma fase tão dura.

Uma fase difícil apenas a nível económico?
As restrições sanitárias, sobre as quais a AHRESP nunca emitiu parecer, porque sempre afirmou que não é da sua competência, tiveram um fortíssimo impacto na atividade. As empresas estiveram um ano e meio a gerir os negócios sem saber como seria o dia de amanhã. Os resultados estão à vista, com o encerramento de milhares de empresas e perda de milhares de postos de trabalho.

Que papel teve a AHRESP na pior fase da pandemia?
A AHRESP teve a agilidade para cumprir a sua missão de representar as suas atividades económicas e apoiar os seus associados. Mobilizámos todos os nossos recursos para dar respostas cabais no território, apoiando através dos nossos serviços os associados nos momentos em que mais precisaram de nós.

Os serviços da AHRESP foram fundamentais neste esforço para nunca deixar os associados sozinhos?
Sem dúvida que foram e continuam a ser. Os nossos colaboradores em todo o país estiveram sempre disponíveis para os nossos associados em todo os momentos.

O que foi feito exatamente?
Psicologicamente e emocionalmente foi uma fase muito dura para os empresários, para os trabalhadores e para toda a equipa da AHRESP. Apoiámos muitas candidaturas, esclarecemos milhares de dúvidas, disponibilizámos informação, trabalhámos guias de boas práticas, estivemos em contacto direto com o Governo e com as autarquias. Lutámos sempre pelo melhor para as nossas empresas.

A AHRESP também foi sempre monitorizando o que se passava, e comunicando de forma permanente e constante com os associados…
Sim, logo no início da crise, a AHRESP promoveu um barómetro mensal dos nossos setores que permitiu analisar com rigor o que se passava no terreno. Os dados do Inquérito Mensal da AHRESP anteciparam, aliás, muitas informações oficiais. Além disso, lançamos o “Boletim Diário AHRESP” logo na primeira fase da pandemia, uma newsletter que é enviada diariamente e, depois, o “Manual de Negócios AHRESP”, atualizado quinzenalmente.

A relação com o Governo foi fácil? Houve recetividade para os problemas registados pelas nossas empesas?
Houve um esforço e diálogo permanente com o Governo para o acolhimento de medidas essenciais à sustentabilidade do setor, para salvar empresas e emprego. Sempre tivemos uma postura de apresentação de soluções para os problemas. Algumas das nossas sugestões foram acolhidas, mas outras ficaram aquém.

“A AHRESP tem vindo a alertar que a retirada prematura dos apoios pode colocar em causa os esforços do último ano e meio e comprometer a viabilidade das empresas. Sempre defendemos que as atividades económicas do turismo precisam de uma discriminação positiva.”

Os apoios foram insuficientes?
Sempre reconhecemos o esforço do Governo, mas os apoios revelaram-se insuficientes, ou porque a dotação ficou aquém do que seria necessário, ou porque a atribuição era complexa, tendo em conta o perfil de empresas. Além disso, uma parte das empresas não conseguiu aceder aos mecanismos de apoios.

A situação das empresas ainda é muito difícil?
Os efeitos da pandemia irão perdurar para além da crise sanitária. Há muitas empresas numa situação financeira extremamente delicada. A nossa atenção está focada em contribuir para sanar estas debilidades.

A falta de apoios às empresas pode comprometer a sobrevivência destes setores?
A AHRESP tem vindo a alterar ao longo dos últimos meses que a retirada prematura dos apoios pode colocar em causa os esforços do último ano e meio e comprometer a viabilidade das empresas. Sempre defendemos que as atividades económicas do turismo precisam de uma discriminação positiva.

O Turismo já serviu antes de alavanca para a Economia. Chegou o momento de repetir?
O turismo foi uma atividade exemplar no período difícil da Troika e pode voltar a sê-lo. Mas temos de o apoiar nesta reta final. Face à resiliência dos empresários até à data, é o caminho mais sensato. De outra forma, é deitar tudo a perder.

O período da pandemia pode ser encarado como uma oportunidade para olhar prospectivamente para o turismo como uma atividade capaz de alavancar a economia do país?
Gostaríamos que assim fosse, mas há que ter consciência de que ainda vivemos tempos muito complexos e incertos. Para que os esforços não tenham sido em vão, há que trabalhar para que estas empresas não “morram na praia”, agora que supostamente já passaram o pior.

2019 foi um óptimo ano para o turismo. Quando prevê chegar aos mesmos níveis?
Seria ideal dizer que no final deste triénio de 2021-24 regressaremos aos números de 2019. Mas estamos muito dependentes do rumo de toda a economia mundial e nacional e da própria evolução da pandemia.

Quais os principais desafios de curto, médio e longo prazo para as empresas dos setores representados pela AHRESP?
Há grandes desafios externos, como a evolução da pandemia ou o aumento dos custos com matérias-primas, a subida de preços da energia e dos combustíveis. Após vinte meses de surto pandémico assistimos agora a um ritmo inflacionista dos custos das matérias-primas, bem como à subida dos preços da energia e dos combustíveis, uma situação que compromete a viabilidade das empresas, agora agravada com o conflito na Ucrânia. Por outro lado, é pedido às empresas um esforço suplementar nos domínios da sustentabilidade, ambiental económica e social, na transição digital, e na valorização dos nossos profissionais. Todo este esforço tem de corresponder aos novos hábitos de preferências do consumidor.

Os estudos apontam para uma mudança da parte dos consumidores, depois da pandemia. As empresas estão preparadas para lhes responder?
Sim, as empresas estão a atender às reconhecidas mudanças aceleradas pela pandemia nos novos padrões de consumo. O nosso trabalho passa, aliás, pelo contributo na transformação da cultura empresarial, procurando responder às exigências dos novos hábitos do consumidor.

Mensagem aos associados da AHRESP

À AHRESP, enquanto associação representativa de empregadores, cabe um papel interventivo no sentido da defesa dos direitos e interesses das atividades que representa. A nossa equipa está aqui para os apoiar. Queremos que este novo mandato seja marcado por uma maior intervenção e participação dos nossos Associados. Queremos ouvi-los e envolvê-los ainda mais na vida desta que é a sua casa. Todos, juntos, seremos agentes influenciadores nas relações com o poder central, assim como com o poder local, em especial com as Autarquias. A resistência e a resiliência farão sempre parte do nosso ADN. A capacidade de enfrentar problemas e superar dificuldades preenche os homens em momentos difíceis. Como diz um provérbio japonês: “cair sete vezes e levantar oito”.

 

UMA EQUIPA RENOVADA PREPARADA PARA OS DESAFIOS DO FUTURO

“São as empresas e o contributo para o seu desenvolvimento a razão de ser da nossa Associação”

A lista eleita para o Mandato AHRESP no Triénio 2021/24 reúne 85 empresas representadas por 170 dirigentes de todo País espelha a capacidade mobilizadora da Associação?
Sem dúvida. Com uma equipa renovada e reforçada, dotada de pessoas a quem se reconhece qualidade e capacidade, dignos representantes das diversas atividades económicas e das diversas regiões do nosso país, estará à altura de responder cabalmente as 50 atividades económicas que representa.

Foi também a primeira vez que houve eleições para as comissões diretivas distritais?
Sim, é verdade. A AHRESP está hoje presente, através das suas Comissões Diretivas Distritais, eleitas pela primeira vez pelos associados, em 13 Capitais de distrito e uma Região Autónoma. No final deste mandato esperamos poder ter Delegações em todos os distritos.

O Comendador Mário Pereira Gonçalves mantém-se também como presidente…
É verdade. Tenho um enorme apreço pelo Comendador Mário Pereira Gonçalves, com quem convivo há mais 30 anos no mundo associativo. O senhor Presidente da AHRESP é um exemplo de resiliência e longevidade no setor, que inspira ativamente o crescimento do AHRESP. O nosso Comendador, acarinhado e respeitado, e não só entre os seus pares, une e inspira todos os que agora tomaram posse na missão de representar e defender a restauração e o alojamento neste período conturbado.

O Programa de Mandato AHRESP para o Triénio 2021/24 sinaliza a sua ação futura alicerçada em três eixos estratégicos: Empresas, Pessoas e Gastronomia. Como resume estas vertentes no contexto dos desafios que referiu?
Por tudo o que atrás já referi são as empresas e o contributo para o seu desenvolvimento a razão de ser da nossa associação. No entanto, pelo perfil das nossas atividades a interação é constante e essa só pode ser desempenhada por bons profissionais. Quanto à Gastronomia reconhecida como Património Cultural do nosso país, deve ser dado um natural enfoque na medida em que se pode reforçar a importância como produto turístico em todo o território nacional pela riqueza do seu Património.

A AHRESP tem referido várias vezes a importância da sustentabilidade ambiental….
É uma preocupação de todos nós a preservação do planeta onde habitamos. Todavia, o caminho para a sustentabilidade deve ser equilibrado e gradual de acordo com as circunstâncias do tecido empresarial.

E a transformação digital?
A transição digital é já uma realidade nas nossas atividades do alojamento e da restauração. No entanto é um caminho que deve continuar procurando uma relação confortável para os consumidores que aos nossos serviços recorrem e também para a reengenharia de processos com vista à otimização de meios.

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