Veja a entrevista exclusiva a Ana Paula, Diretora Coordenadora da Formação do Turismo de Portugal, que fala sobre a necessidade de repensar os modelos formativos e de os empresários abraçarem esta mudança, dotando os seus colaboradores de competências mais adequadas às exigências do mercado.
“Precisamos de repensar a escola”
À margem do 8º Fórum de Turismo Interno Vê Portugal, que teve lugar entre 6 e 9 de junho, em Tomar, Ana Paula Pais interveio no painel Capital Humano’, no segundo dia de trabalhos. Um painel exclusivamente feminino, que contou ainda com a participação da Secretária-geral da AHRESP, Ana Jacinto, e da senior manager da Deloitte, Margarida Sousa Uva.
A Diretora Coordenadora da Formação do Turismo de Portugal começou por apresentar os vários cenários possíveis da escola – do modelo presencial e unidirecional ao modelo totalmente informal de aprendizagem em contexto de família. Se o primeiro modelo se revela inadequado face ao mundo atual, o último é uma verdadeira utopia face à realidade atual. O caminho faz-se caminhando, mas Ana Paula Pais defende que é absolutamente necessário repensar a escola “fora das balizas que conhecemos atualmente, voltando a posicionar o aluno no centro da aprendizagem”.
“Há que reformular o modelo educativo unidirecional e voltar a posicionar o aluno no centro da aprendizagem.”
Ana Paula Pais esclarece que existem já alguns projetos inovadores que decorrem em escolas mais pequenas, mas que é necessário avaliar antes de escalar a sua implementação. Dá o exemplo do Hotel do futuro, projeto que decorre na Escola de Turismo de Setúbal, ou de algumas experiências project learned based, “em que é definido um projeto para um grupo de alunos e depois a aprendizagem vem na execução desse projeto. Nós tentamos fazê-lo criando projetos para uma turma, para um grupo multidisciplinar de alunos, às vezes na comunidade”. Refere ainda experiências on the job, que aproximam o ambiente de formação à realidade do mercado de trabalho, em que os alunos alternam entre formação na escola e formação na empresa. Embora admita que esses projetos ainda “não sejam muito expressivos, temos muitos projetos-piloto, como por exemplo, laboratórios de inovação dentro das escolas, onde estamos a fazer testagem de produtos antes de eles poderem ir para o mercado e percebermos a riqueza enorme e a geração de competências que estas novas abordagens têm”.
“O grande desafio no setor do turismo é que é necessário fazer a mudança de modelo educativo de forma muito acelerada: porque temos muitas pessoas para formar e é insuficiente formar em ambiente de escola, temos de o fazer com as empresas, acelerando de forma eficiente o processo de formação/integração no mercado de trabalho”
A responsável admite, contudo, que será muito difícil fazer esta evolução do paradigma educativo sem a colaboração das empresas, que têm o problema acrescido de estarem em permanente contexto produtivo, mas defende que é fundamental encontrar momentos em que é possível ter momentos de aprendizagem: “quer os alunos que vão das escolas para esse contexto profissional, mas sobretudo os profissionais que já estão nas empresas, precisam de espaço de aprendizagem: as pessoas que são responsáveis por equipas têm de perceber que a médio, ou mesmo a curto prazo, se não mudarmos nesta estratégia acabamos por perder as pessoas ou não conseguir cumprir as tarefas.”
Assim, aponta exemplos de empresas que têm equipas em que regularmente há momentos de aprendizagem, como no início do dia de yrabalho ou nas mudanças dos turnos, muito comum na indústria, mas que é um modelo que pode ser plasmado para as empresas do alojamento turístico e restauração. Especificamente nas empresas HORECA, comenta experiências que, embora pontuais, revelam potencial, como a autoaprendizagem através de aplicativos que estimulam as pessoas a terem momentos de pausa para atualizarem, por exemplo, informação sobre uma nova aplicação que está em curso na empresa e que é de relevância para a gestão quotidiana do serviço. “São experiências que temos que fazer, mas precisamos de encontrar parceiros do lado empresarial que as queiram fazer: teremos mesmo de caminhar nesse sentido se queremos construir um futuro com pessoas mais entusiasmadas do que temos atualmente”, resume Ana Paula Pais.