Depois de quase dois anos, o projeto hotel 4.0 reuniu dezenas de especialistas nacionais e internacionais nas suas seis sessões de Think Tank e três workshops no âmbito do roadshow hotel 4.0 Talks.
Uma iniciativa inédita da AHRESP que, apesar de ter arrancado antes da pandemia, tornou ainda mais premente a discussão a que desde o início se propôs: a aceleração da transformação digital enquadrada como um caminho crucial que faz parte de uma nova estratégia de qualificação do setor orientada para o conceito de Hotel 4.0.
O evento final, que contou com a intervenção de Marie Audren, Diretora-geral da HOTREC – Hospitality Europe (não perca a entrevista exclusiva ao MAGAZINE DE NEGÓCIOS AHRESP), decorreu no dia 11 de maio na Alfândega do Porto, e reuniu empresas, decisores nacionais e internacionais, escolas, universidades, especialistas, inovadores, que refletiram na utilização de novos modelos e processos que permitam desenvolver o conceito de hotel do futuro, conjugando sustentabilidade e digitalização, sem esquecer o fator humano. Uma oportunidade única para conhecer o futuro da hotelaria portuguesa e desenhar os caminhos da competitividade e sustentabilidade do negócio.
“A digitalização é um meio e não um fim, a relação será sempre o centro do negócio no Turismo”
“O digital é uma ferramenta maravilhosa, se bem integrada, como facilitador dos negócios, libertando as pessoas para a componente humana do negócio, melhorando a oferta da experiência e da relação humana a um novo consumidor que cada vez mais valoriza essa relação. Em suma, o negócio do turismo é a relação: a digitalização é um meio e não um fim em si”
“A AHRESP não chegou ontem ao tema da transição digital: o hotel 4.0 foi um projeto que surgiu há dois anos, quando vivíamos o nosso melhor período do turismo em décadas e quando este ecossistema provou ser uma das maiores alavancas da economia do país”, começou por dizer Tiago Quaresma, Vice-Presidente da AHRESP, na abertura hotel 4.0 Portugal Summit.
Defendendo que é desejável durante os períodos de pujança económica fazer as abordagens estratégicas para potenciar a competitividade das empresas, a verdade é que quando chegou a Pandemia, houve uma mudança brusca de muitos cenários e “tornou-se emergente colocar a tónica na necessidade de fazer esta transição digital no setor hoteleiro”. E neste contexto, projeto hotel 4.0 interagiu com empresas, académicos, especialistas, todos os atores que intervêm neste setor.
Mas para os muitos receios que existem de que a transição digital pode afetar um negócio de relação humana, Tiago Quaresma assegurou que o “mote deste evento final do hotel 4.0 é ‘digitalizar sem desumanizar’, porque o centro da nossa atividade são as pessoas e a dimensão humana nunca irá ser secundarizada na abordagem deste tema: a digitalização é um meio e não um fim em si”.
“Na AHRESP”, continuou o Vice-Presidente, “preocupa-nos fundamentalmente as pequenas empresas, com as quais pretendemos fazer a ponte, nomeadamente através de projetos como o hotel 4.0. Há boas soluções que o tecido empresarial ainda não conhece e que é preciso dar a conhecer e desmistificar. O digital bem apreendido e aplicado traz aporte e valor ao negócio relacional. Na essência, o turismo é um negócio de Pessoas para Pessoas”.
Tiago Quaresma resumiu que o hotel 4.0 assentou em três vertentes fundamentais – SENSIBILIZAR, CAPACITAR, ACELERAR – e que evento realizado na Alfândega do Porto também não deve ser encarado com um fim em si mesmo: “Ainda há percurso que as empresas têm que percorrer e a AHRESP estará sempre na charneira das iniciativas que possam aproximar as empresas das ferramentas que necessitam para modernizar o seu negócio, imputar-lhes mais valor e competitividade num panorama que hoje se coloca à escala global”.
‘Desafios estratégicos do Turismo na nova economia digital’
“A digitalização é um contributo que pode mudar a face da recuperação dos negócios e no contexto particular da sustentabilidade, mas para tal é necessário investimento. E no momento que travessamos torna-se particularmente difícil fazê-lo sem ajudas”
Marie Audren, oradora convidada do hotel 4.0 Portugal Summit, apresentou na Alfândega do Porto o tema os ‘Desafios estratégicos do Turismo na nova economia digital’. A Diretora-geral da HOTREC – Hospitality Europe realçou que há ainda “uma situação de grande precaridade das empresas da hospitalidade no momento atual: o impacto da pandemia foi tremendo e deixou uma pesada herança de dificuldades e um número preocupante de insolvências nas empresas europeias. A guerra na Ucrânia, em território europeu, também está a ser um duro golpe neste período de retoma. Na HOTREC, defendemos que é crucial continuar a fomentar ajudas dirigidas para as empresas da hospitalidade.”
Na sua intervenção, deixou claro que o Digital é uma das quatro prioridades da HOTREC, que prioriza ainda a Sustentabilidade, onde pretende trabalhar conjuntamente para chegar a um setor carbono neutro; as Pessoas, apostando numa força de trabalho qualificada e capacitada para enfrentar os desafios do futuro; e a Resiliência, que o setor demonstrou estes dois anos e que que tornaram óbvio que o setor da hospitalidade tem que ser dotado de instrumentos de instrumentos que lhe permitam resistir a choques futuros relacionados com a constelação do turismo.
Na HOTREC, “estamos particularmente preocupados com o quadro regulamentar europeu nesta matéria, nomeadamente no que toca à regulamentação das grandes plataformas de reservas que esmagam margens destes negócios, sobretudo num negócio composto essencialmente por micro e pequenas empresas e isso é transversal a toda a Europa. Esta relevância das plataformas, diria, que quase tem funcionado como um ‘desincentivo’ à digitalização das empresas”, alertou Marie Audren.
A Diretora-geral da HOTREC deixou a mensagem de que “há muito trabalho para fazer, não só a nível regulamentar, mas também a o nível da qualificação e requalificação de ativos. A HOTREC defende também apoios nesse domínio: a falta de trabalhadores para o setor, que é outra problemática transversal à Europa, junta-se efetivamente à falta de conhecimento no domínio das tecnologias digitais para que estas funcionem e sejam aplicadas como valor para os negócios.”
Estudo do ‘Estado da Arte e Visão Prospetiva da Hotelaria portuguesa’
“A grande mudança foi que deixamos de olhar para a oferta para olharmos para a procura. O foco tem que ser o viajante e as suas necessidades individuais e específicas porque somos cada vez mais únicos e devemos proporcionar experiências personalizadas a quem nos visita”
Apresentados em primeira no workshop de Braga, no âmbito do roadshow Hotel 4.0 Talks, os dados do ‘Estudo do Estado da Arte e Visão Prospetiva da Hotelaria portuguesa’, revelaram que mais de 80% das empresas, que responderam ao inquérito do promovido pela AHRESP, investem menos de 12 mil euros por ano em equipamentos, software e serviços digitais. Os dados foram apresentados no hotel ‘4.0 Portugal Summit’ por Luís Ferreira, da Birds & Trees, parceira do Hotel 4.0, que irá fazer a apresentação global do projeto no próximo dia 11, na Alfândega do Porto.
O Estudo referido, enquadrado no Projeto Hotel 4.0 são indicadores do rumo a seguir neste caminho para o conceito do hotel 4.0. Luís Ferreira, revela que se é verdade que a hotelaria foi um dos primeiros setores a avançar para terreno digital, é certo que hoje têm dificuldade de priorização em relação às ferramentas digitais em que devem apostar. “A transição digital é vital para a sobrevivência das empresas independentes, a maioria das mais de duzentas que participaram no inquérito”, assegurou o parceiro da AHRESP, adiantando que, durante 2022, cerca de três quartos das empresas preveem manter o mesmo nível de investimento em tecnologias digitais
Questionadas sobre as ferramentas digitais mais utilizadas, as empresas hoteleiras apontaram o website, a loja online e as redes sociais, alegando Luís Ferreira que “o marketing digital é muito mais” do que isso. Constatou que o ‘chatbox’ ou a ‘smart room tech’ são ferramentas pouco utilizadas, sendo que as mesmas podem “melhorar a experiência dos hóspedes e a competitividade do negócio”. A banda larga de internet e wifi são os serviços base da oferta digital da hotelaria, constatando o coordenador do estudo encomendado pela AHRESP que os mesmos correspondem “ao momento zero da digitalização”.
Para o responsável da Birds & Trees, o grande desafio da aceleração digital para o setor hoteleiro em Portugal é responder à questão: “Como é que num negócio de relação humana podemos aportar mais força e competitividade através da digitalização?”. Saiba mais sobre a visão do Hotel 4.0 na caixa “O Hotel 4.0 – a (r)evolução da hotelaria na era digital”.