Pico de atividade do turismo requer medidas urgentes para mitigar escassez de trabalhadores

Ago 9, 2022

Num contexto de grande procura e de pico de atividade, a escassez de trabalhadores para o turismo é mais premente do que nunca. Conforme análise recente do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), 50 mil postos de trabalho podem ficar por preencher no setor de Viagens e Turismo em Portugal se não forem tomadas medidas urgentes e faz recomendações em linha com as conclusões que a AHRESP já tinha anunciado em abril, que se tornam agora mais pertinentes do que nunca

Ana Jacinto | Secretária-geral da AHRESP: “Encontrar soluções para mitigar o impacto da escassez de pessoas para trabalhar no turismo é uma responsabilidade partilhada por todos, e com uma atuação em várias dimensões: mas há que encontrar mecanismos que permitam a criação de um ambiente mais favorável ao funcionamento das empresas, nomeadamente por via da redução de encargos fiscais, que permita gerar riqueza”

O Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) e a Comissão Europeia de Viagens (ETC) alertaram na semana passada que o setor de Viagens e Turismo pode ser colocada em sério risco se quase 1,2 milhões de postos de trabalho permanecerem vagos em toda a União Europeia (UE). Em Portugal, estima-se que 50 mil postos de trabalho podem ficar por preencher nestes setores e que são necessários para responder à procura, que se torna mais aguda neste período de pico de atividade.

Em entrevista ao TNEWS, de dia 5 de agosto, Rita Marques, Secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, faz uma análise do contexto que está na base desta falta de profissionais disponíveis para trabalhar no turismo e admite que a situação requer “medidas urgentes”. Sobre a captação de talento, Rita Marques recorda que o Governo está a trabalhar na agilização de vistos para os cidadãos oriundos da Comunidade de Países da Língua Portuguesa: “Em julho, a Assembleia da República aprovou alterações à «Lei dos Estrangeiros», alterações que nos ajudarão a preparar muito em breve uma missão a Cabo Verde para testar o modelo de concessão de vistos”. 

A SETCS admite que os “empresários também estão a assumir o seu papel: pagando melhor e favorecendo instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho”, a par de um investimento na formação de pessoas através da rede de escolas  de Hotelaria e Turismo em todo o território e da “construção de projetos de valorização das profissões do turismo, em cooperação com as entidades de formação, com as associações do setor, e com as empresas, evidenciando o valor social e económico das profissões do turismo”

AHRESP propõe pacote de medidas para combater escassez de pessoas para trabalhar no turismo

A AHRESP congratula o Governo pelos passos já dados, nomeadamente na agilização dos vistos para os imigrantes oriundos da Comunidade de Países da Língua Portuguesa, que demonstra que a imigração faz parte de uma solução abrangente de medidas para mitigar a escassez de recursos humanos para o turismo, mas relembra que há outras medidas ponderadas na Conferência Mercado de Trabalho | Que profissionais teremos amanhã?, que a AHRESP realizou em abril deste ano, que ainda não foram acolhidas.

Ana Jacinto relembra (veja o vídeo acima) que a solução para a escassez de trabalhadores no turismo não é uma via de sentido único, mas sim uma responsabilidade partilhada por todos e que é preciso agir em várias frentes. A Secretária-geral da AHRESP crê ser fundamental as empresas terem capacidade para gerar riqueza, para poderem oferecer melhores condições aos seus colaboradores: sendo que a retribuição financeira não é o único tópico a ter em conta no leque de soluções para o problema, é sem dúvida um ponto incontornável.

Para tal, das nove conclusões que a AHRESP divulga para a mitigação da falta de pessoas para trabalhar nos setores da restauração, similares e do alojamento turístico, uma das medidas passa também pela criação de um ambiente mais favorável ao funcionamento das empresas pela redução dos encargos fiscais, nomeadamente os diretamente relacionados com o trabalho.

A AHRESP relembra que, pese embora a atividade turística estar a registar um desempenho muito favorável neste período de verão, o fim da época alta trará fortes desafios. O contexto inflacionista que ainda perdura, em conjunto com a subida das taxas de juro, irá provocar uma perda acrescida do poder de compra das famílias. Os nossos setores são muito sensíveis às flutuações da economia mundial e, por norma, são os primeiros a sofrer com a perda do poder de compra dos consumidores.

Ao longo das últimas semanas, vários Governos de toda a Europa têm reforçado as medidas de mitigação da inflação, tais como redução de impostos e atribuição de subsídios. Em Portugal, o Executivo de António Costa prometeu novos apoios às famílias e à atividade das empresas para setembro.

A AHRESP apela desde já a que as medidas de apoio a serem lançadas no próximo mês atendam às adversidades que se anteveem para o nosso setor, que ainda não recuperou da pandemia (nem se espera que tal venha a suceder ainda em 2022). As empresas do alojamento turístico e da restauração e similares não podem ficar esquecidas e devem ser contempladas nas medidas que venham a ser disponibilizadas.

Nove soluções para inverter falta de trabalhadores no Turismo

  • As empresas do Alojamento Turístico e da Restauração e Bebidas devem procurar empreender estratégias criativas para atrair e reter profissionais, que devem ir além da retribuição e que podem passar por sistemas de avaliação, práticas de reconhecimento, garantias de progressão na carreira e a uma melhor conciliação entre vida profissional e vida familiar;
  • O valor da retribuição deverá ter sempre em consideração os ganhos de produtividade, fruto do desempenho individual do trabalhador, mas também do desempenho coletivo ao nível de toda a estrutura empregadora;
  • Criação de um ambiente mais favorável ao funcionamento das empresas, nomeadamente por via da redução de encargos fiscais, nomeadamente aqueles diretamente relacionados com o trabalho;
  • Uma melhor e mais adequada gestão da organização do tempo de trabalho é um fator que gera maior produtividade, o que aumenta a disponibilidade financeira para que as empresas possam proporcionar melhores condições de trabalho;
  • Devem promover-se iniciativas e mecanismos ao nível da dignificação e da valorização das profissões, para o que pode contribuir uma redenominação das categorias profissionais e uma adequação dos seus conteúdos funcionais, por forma a adequá-los à realidade atual e às exigências das nossas atividades;
  • É urgente uma aposta séria e estruturada na qualificação dos trabalhadores do turismo, promovendo-se um sistema de ensino dual, complementando a aprendizagem com a experiência prática;
  • Desenvolvimento e implementação de um programa de formação de início de carreira, de curta duração, para as categorias profissionais mais carentes de mão-de-obra qualificada e que, desta forma, facilitem o acesso à profissão. Estas formações devem ser divulgadas e promovidas junto de desempregados e de ativos de outras áreas de atividade que desejem iniciar uma carreira nas empresas de Alojamento Turístico e de Restauração e Bebidas;
  • A imigração pode e deve ser encarada como fazendo parte da solução, desde que de forma organizada e com garantia de condições dignas, de trabalho e de vida. Para isso, o poder público deverá ainda rever os atuais mecanismos de legalização para trabalhadores por conta de outrem e de reconhecimento de habilitações, que devem ser agilizados;
  • Elaboração de um ‘Livro Verde do Mercado do Trabalho HORECA’, para, de forma clara e precisa, se identificar as atuais carências do Mercado, quer em termos de quantidade de recursos humanos, quer em termos da sua qualificação, pois só desta forma é possível identificar as melhores e mais adequadas soluções.

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