RTP 3 | “Empresas não podem trabalhar só para pagar custos; Governo tem de criar ambiente favorável por via da redução da carga fiscal”, defende Ana Jacinto

Set 12, 2024

Em entrevista ao programa “Tudo é Economia”, da RTP3, a secretária-geral da AHRESP afirma que o Turismo continua a ser o motor da economia nacional e que é prematuro afirmar que há uma crise generalizada na restauração, até porque a situação das empresas reflete uma realidade assimétrica do país: é possível, sim, afirmar que a restauração mais dependente do mercado interno, regra geral empresas muito micro, podem sentir maiores dificuldades, fruto de um contexto de diminuição do poder de compra dos portugueses, inflação dos produtos alimentares, a que se juntam os encargos dos empréstimos contraídos durante a pandemia e o sufoco de uma carga fiscal pesada. Ana Jacinto destaca que é fundamental o Governo criar um ambiente favorável às empresas, para que possam gerar maior riqueza e a possam redistribuir. E é isto que a AHRESP defende e já o fez objetivamente com a apresentação de 25 medidas ao Governo, que têm um foco essencial na redução da carga fiscal às empresas

Partilhamos alguns excertos da entrevista.

“É prematuro falarmos em crise no setor da restauração. O setor do Turismo, que continua a ser o motor da nossa economia, está a crescer. É verdade que as estatísticas rápidas de julho do INE dão-nos nota de uma desaceleração e um decréscimo nas dormidas dos portugueses. Sendo que, ainda não temos os dados de agosto.”

“Contudo, se olharmos para o acumulado de janeiro a julho nós temos o setor acrescer e a crescer de forma sustentada. Isto quer dizer que conseguimos diversificar mercados, o que é muito importante para o setor e para o país. Não só temos os nossos mercados habituais, como temos mercados que não são tão habituais a crescer, como a Polónia, os EUA, o Canadá, Países Baixos, ou Dinamarca. Depois diversificamos o território, isto é, temos mais turistas em territórios que não tinham tanto Turismo. E, estamos a esbater gradualmente a sazonalidade.”

“No que diz respeito à restauração em concreto temos alguns sinais que nos têm preocupado. O território é muito assimétrico e temos empresas que nos dizem que [o ano] está a correr muito bem e outras empresas dão grandes sinais de preocupação. Tem tudo a ver com o território e com o facto de algumas destas empresas dependerem do mercado interno.”

“O poder de compra dos portugueses diminuiu, tendo sido afetados pela inflação e subida das taxas de juro. Os hábitos de consumo mudaram e o perfil do consumidor também mudou.”

Quanto ao número de empresas da restauração que encerraram ou abriram portas em 2024, Ana Jacinto destaca que “o saldo dos dados oficiais continua a não revelar preocupação, porque continuamos a ter mais empresas a abrir do que aquelas que encerram. Mas, este setor quando fecha portas, as portas são fechadas de forma silenciosa. Não contam para as estatísticas.”

“Os dados oficiais que a AHRESP tem são os que recolhe através das dezasseis delegações, que inquirem constantemente as empresas. Através deste reporte apercebemo-nos que o setor está a dar sinais de preocupação, porque algumas empresas dizem que não sabem se vão continuar de portas abertas.”

“Era crucial que o setor tivesse dados oficiais. Existe cadastro que está previsto na legislação, mas que nem sequer existe na restauração.”

“A AHRESP está a trabalhar num observatório com a Nielsen, para conseguir dados mais reais.”

“No Congresso que vamos realizar a 11 e 12 de outubro em Aveiro já pretendemos lançar alguns dados deste observatório. Infelizmente, quando falamos de Turismo falamos muito de dormidas, hóspedes, receitas e proveitos do alojamento e não tanto da restauração.”

“Temos procurado convencer o Governo de que precisamos de medidas, sobretudo ao nível fiscal, para criar ambientes favoráveis às empresas, para que possam ter mais tesouraria, investir e requalificar-se e não terem de recorrer, por exemplo, ao aumento de preços que afasta os clientes.”

São propostas que a AHRESP apresentou recentemente ao Governo no conjunto de 25 medidas para o Orçamento do Estado 2025, entre as quais constam a redução da taxa intermédia de IVA de 13% para 10%, e a redução da Taxa Social única (TSU). O peso dos impostas e das contribuições “é de facto uma preocupação imensa para a AHRESP. As empresas precisam de ter um ambiente favorável para gerar riqueza e neste momento as nossas empresas não têm esse ambiente, são sufocadas por uma carga fiscal tremenda.”

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