Partilhamos alguns excertos da entrevista.
“É prematuro falarmos em crise no setor da restauração. O setor do Turismo, que continua a ser o motor da nossa economia, está a crescer. É verdade que as estatísticas rápidas de julho do INE dão-nos nota de uma desaceleração e um decréscimo nas dormidas dos portugueses. Sendo que, ainda não temos os dados de agosto.”
“Contudo, se olharmos para o acumulado de janeiro a julho nós temos o setor acrescer e a crescer de forma sustentada. Isto quer dizer que conseguimos diversificar mercados, o que é muito importante para o setor e para o país. Não só temos os nossos mercados habituais, como temos mercados que não são tão habituais a crescer, como a Polónia, os EUA, o Canadá, Países Baixos, ou Dinamarca. Depois diversificamos o território, isto é, temos mais turistas em territórios que não tinham tanto Turismo. E, estamos a esbater gradualmente a sazonalidade.”
“No que diz respeito à restauração em concreto temos alguns sinais que nos têm preocupado. O território é muito assimétrico e temos empresas que nos dizem que [o ano] está a correr muito bem e outras empresas dão grandes sinais de preocupação. Tem tudo a ver com o território e com o facto de algumas destas empresas dependerem do mercado interno.”
“O poder de compra dos portugueses diminuiu, tendo sido afetados pela inflação e subida das taxas de juro. Os hábitos de consumo mudaram e o perfil do consumidor também mudou.”
Quanto ao número de empresas da restauração que encerraram ou abriram portas em 2024, Ana Jacinto destaca que “o saldo dos dados oficiais continua a não revelar preocupação, porque continuamos a ter mais empresas a abrir do que aquelas que encerram. Mas, este setor quando fecha portas, as portas são fechadas de forma silenciosa. Não contam para as estatísticas.”
“Os dados oficiais que a AHRESP tem são os que recolhe através das dezasseis delegações, que inquirem constantemente as empresas. Através deste reporte apercebemo-nos que o setor está a dar sinais de preocupação, porque algumas empresas dizem que não sabem se vão continuar de portas abertas.”
“Era crucial que o setor tivesse dados oficiais. Existe cadastro que está previsto na legislação, mas que nem sequer existe na restauração.”
“A AHRESP está a trabalhar num observatório com a Nielsen, para conseguir dados mais reais.”
“No Congresso que vamos realizar a 11 e 12 de outubro em Aveiro já pretendemos lançar alguns dados deste observatório. Infelizmente, quando falamos de Turismo falamos muito de dormidas, hóspedes, receitas e proveitos do alojamento e não tanto da restauração.”
“Temos procurado convencer o Governo de que precisamos de medidas, sobretudo ao nível fiscal, para criar ambientes favoráveis às empresas, para que possam ter mais tesouraria, investir e requalificar-se e não terem de recorrer, por exemplo, ao aumento de preços que afasta os clientes.”
São propostas que a AHRESP apresentou recentemente ao Governo no conjunto de 25 medidas para o Orçamento do Estado 2025, entre as quais constam a redução da taxa intermédia de IVA de 13% para 10%, e a redução da Taxa Social única (TSU). O peso dos impostas e das contribuições “é de facto uma preocupação imensa para a AHRESP. As empresas precisam de ter um ambiente favorável para gerar riqueza e neste momento as nossas empresas não têm esse ambiente, são sufocadas por uma carga fiscal tremenda.”