MAGAZINE IMOBILIÁRIO | “Atividades do turismo precisam de um verdadeiro choque fiscal”, afirma Ana Jacinto

Out 1, 2025

No podcast do Magazine Imobiliário, Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP, alertou que a restauração e o alojamento turístico precisam de "um verdadeiro choque fiscal". Explicou, ainda, que a AHRESP propôs ao Governo que o Orçamento do Estado para 2026 inclua a descida dos impostos sobre o rendimento do trabalho e a reposição do IVA à taxa intermédia em todas as bebidas

Oiça AQUI, na íntegra, as declarações de Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP, ao Magazine Imobiliário

Durante a entrevista, a secretária-geral da AHRESPAna Jacinto, deixou claro que o Orçamento do Estado para 2026 deve ser um ponto de viragem para os setores da restauração e do alojamento turístico, que precisam de medidas estruturais e urgentes que permitam aliviar a carga fiscal e contributiva sobre as empresas. “É absolutamente crucial rever em baixa a TSU e o IRS. Sem esse alívio, não conseguimos pagar melhor aos trabalhadores nem garantir a sustentabilidade das empresas”, defendeu, acrescentando que os empresários lidam com uma grande dificuldade em reter colaboradores e que, por isso, precisam, cada vez mais, de pagar melhor.

“Estes setores têm sido dos que mais evoluíram na valorização salarial, mas à custa de um enorme esforço e com grande impacto nos custos das empresas. Os empresários estão cada vez mais conscientes de que o capital humano é o maior ativo das nossas empresas. No turismo, por mais digitalização que exista, continuamos a ser um setor de pessoas para pessoas – e vamos sempre precisar das pessoas,” avançou Ana Jacinto.

Outro ponto que a AHRESP considera urgente é a uniformização do IVA nas bebidas. Não faz sentido termos o vinho à taxa máxima na restauração e bebidas quando no retalho é vendido à taxa intermédia. Isso cria distorções e confusão para empresas e consumidores e fragiliza a tesouraria. A harmonização é urgente

A secretária-geral lembrou também que as medidas previstas para os territórios de baixa densidade continuam insuficientes. “Não é com pequenos incentivos e majorações que vamos fixar empresas e pessoas. É preciso um choque fiscal claro e inequívoco, que dê sinais fortes aos empresários e às comunidades”, disse.

Turismo como motor económico

Para Ana Jacinto, o Turismo continuará a ser um dos grandes motores da economia portuguesa. “O que precisamos é que as outras atividades cresçam ao mesmo ritmo do turismo. Esta atividade não vive sozinha: precisa da agricultura, da pesca, dos móveis, dos têxteis, das camas. Quando o turismo cresce, todas as outras indústrias crescem também”, destacou.

E concluiu com uma nota de missão: “O nosso objetivo é estar sempre do lado do empresário, para que ter uma empresa em Portugal seja menos penoso. Porque estas empresas estão a gerar riqueza, a criar emprego e a assumir uma enorme responsabilidade para o país. O que queremos é que continuem produtivas, que reinvistam e que façam aquilo que é a essência de qualquer empresa: produzir riqueza”.

Apoio e valorização fazem parte da missão da AHRESP

Ana Jacinto também aproveitou para esclarecer sobre o trabalho que a associação desenvolve: “O nosso tecido empresarial é muito micro e, estando sujeito às dinâmicas do mercado nacional e internacional, exige uma resposta diária de apoio próximo. Estes empresários não podem afastar-se dos seus negócios e precisam da AHRESP junto deles.”

Atualmente, a associação conta com 17 delegações e prepara a abertura de mais uma no Funchal. “Não chega o online. Nada substitui a proximidade física”, acrescentou.

Outro eixo central da atuação da AHRESP tem sido a valorização não só das profissões, mas também das atividades em si. Nesse espírito, a associação lançou várias plataformas temáticas: do Pão, com base em Mafra; do Chocolate, em Óbidos; do Vinho, que ficará sediada na Régua; e do Mar, nos Açores, sob a designação de “Cozinhas do Mar”. Estas estruturas promovem sinergias entre empresários, profissionais, académicos e ciência, dinamizando produtos e profissões que fazem parte da identidade nacional. “O que pretendemos é valorizar cadeias completas de produção, profissões e atividades”, explicou a dirigente.

Velhos e novos desafios

A pandemia provou a importância de ter uma associação preparada para agir, mas a lista de desafios não terminou aí. “Depois foi a tempestade Martinho, de seguida as inundações, o apagão, os incêndios e infelizmente tememos que estas situações possam vir a ser recorrentes. Temos permanentemente a necessidade de apresentar propostas junto do Governo para apoiar as empresas”, lembrou Ana Jacinto, destacando que, durante os incêndios deste verão, a AHRESP esteve na linha da frente, reunindo com o Secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços para apresentar soluções. “Nem todas as nossas propostas foram acolhidas, mas algumas medidas estão já aprovadas, aguardamos apenas a publicação dos avisos de abertura para ajudar os empresários a formalizar candidaturas”, informou.

No balanço, a secretária-geral da AHRESP deixou um apelo para que se olhe para o alojamento turístico e para a restauração como setores essenciais para o desenvolvimento económico do país.  “Quando o turismo cresce, cresce também a agricultura, a pesca, os têxteis e o imobiliário. O que falta é garantir que todas as atividades económicas consigam crescer ao mesmo ritmo”, concluiu.

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