CARLOS ABADE: “Queremos que o Turismo seja promotor do bem-estar e da qualidade de vida dos portugueses”

Out 2, 2024

Questionado sobre se temos Turismo a mais ou Economia a menos, Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, responde que a atividade turística representa 20% das exportações e cerca de 11% do PIB. Ou seja, precisamos de mais Economia e de pôr o Turismo a crescer de forma sustentável. Para isso, há que investir numa gestão inteligente das cidades e dos territórios, tendo como objetivo a promoção do bem-estar e da qualidade de vida dos portugueses

À margem da Cimeira do Turismo 2024, promovida pela CTP – Confederação do Turismo de Portugal, que decorreu esta sexta-feira, em Mafra, sob o tema “TURISMO É VALOR”, o Magazine de Negócios AHRESP falou com o presidente do Turismo de Portugal sobre o “Estado da Arte” em Portugal. Carlos Abade reconhece o importante papel da atividade, motor da Economia nacional, mas assegura que, no âmbito do programa “Acelerar a Economia” e no quadro da “Estratégia Turismo 2035”, ainda há que tornar a gestão mais eficiente, para melhorar o planeamento das cidades e dos territórios, e alterar a política de remuneração dos trabalhadores do Turismo, num esforço de aproximação ao salário médio nacional.

Somos uma atividade [Turismo] de excelência, temos equipas de excelência. Também temos de valorizar, de forma excelente, aqueles que trabalham para os setores desta atividade

“NÃO TEMOS TURISMO A MAIS, TEMOS É ECONOMIA A MENOS.” CONCORDA COM A AFIRMAÇÃO DE FRANCISCO CALHEIROS, PRESIDENTE DA CTP, NA ABERTURA DA CIMEIRA DO TURISMO 2024?

Só posso concordar. O Turismo tem o peso na economia que tem, em função do seu percurso nos últimos anos, o que faz com que hoje seja responsável por cerca de 20% das exportações do país e por cerca de 10% a 11% do PIB. A Economia é que tem de ser maior ainda, sendo certo que o Turismo tem contribuído para o seu crescimento.

Devemos ter a noção de que o Turismo tem feito um caminho de sucesso e que a Economia, no seu global, tem de fazer o seu percurso e crescer, sendo que o Turismo está preparado para ajudar nesse objetivo.

O CRESCIMENTO DO TURISMO ESTÁ EM DESACELERAÇÃO FACE A ANOS ANTERIORES. É PREOCUPANTE?

Em primeiro lugar, o Turismo está a crescer: atualmente, cresce mais 11%, relativamente ao ano passado, que já foi um ano recorde. É claro que não temos o crescimento registado em 2023, porque os números resultam de uma comparação com 2022, que vinha do tempo da pandemia. Mas dizer que Turismo está a desacelerar, quando está a crescer 11% face ao ano anterior, é um bocadinho exagerado. O Turismo vai continuar a crescer porque é uma indústria de pessoas, da felicidade e do bem-estar. E as pessoas não vão desistir de ser felizes, o que significa que vão continuar a viajar. Portugal tem mais-valias competitivas, mostra os seus trunfos e pode trazer o Turismo que deseja: um Turismo que cresça em valor e em qualidade. E é esse o trabalho que se está a fazer. Quando hoje falamos, por exemplo, do aumento dos preços, significa que as empresas desta atividade estão a conseguir competir no mercado global, não pela massificação, não por preços baixos, mas pela qualidade. E esse é o trabalho que tem de ser feito.

O QUE MERECE PARTICULAR ATENÇÃO PARA O CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL DA ATIVIDADE?

Temos de observar o que vai acontecendo no território e o impacto do Turismo nas pessoas. No ‘final do dia’, e sou muito claro neste aspecto, o que queremos é que o Turismo seja, de facto, uma importante ferramenta na melhoria da qualidade de vida e do bem-estar dos portugueses. Esse é o objetivo final. Por isso, tudo aquilo que fazemos tem de ter esse móbil como pano de fundo. Tal significa que temos de envolver os residentes e os territórios na gestão do Turismo.

É necessário desenvolvermos o que já está previsto no âmbito do programa “Acelerar a Economia”, aprovado pelo Governo, em junho, e que enquadra a gestão inteligente das cidades e dos territórios. Assim, temos de  aperfeiçoar cada vez mais a nossa capacidade de gerir as cidades, os territórios, os fluxos, os recursos, associando o programa da mobilidade.Temos de ser cada vez mais eficientes na utilização dos recursos e mais inteligentes no planeamento. Há que executar de forma cada vez mais assertiva.

OS SALÁRIOS DOS TRABALHADORES DO TURISMO AINDA SÃO UMA DIFICULDADE PARA A ATRATIVIDADE DESTAS PROFISSÕES?

Seguramente. É uma das dimensões que vai ser tratada na “Estratégia Turismo 2035”. Melhorar a qualidade de vida dos portugueses não passa apenas pela promoção da cultura, da história, dos costumes, das tradições, dos ofícios, enfim, de todas as dimensões que o Turismo toca, que é muito vasta.  Evidentemente, a valorização dos trabalhadores do Turismo é uma outra dimensão a ter em conta: na sua qualificação, na sua formação, mas também na valorização remuneratória das profissões que esta indústria enquadra.

Mas esse é um percurso que o Turismo sabe que tem de percorrer. O Turismo tem, nos últimos anos, aumentado os salários numa média superior ao dobro da média nacional. Estamos satisfeitos? Não, ainda não estamos satisfeitos. Este caminho tem de continuar e evoluir no sentido da convergência e da ultrapassagem do que é média da economia nacional. Somos uma atividade de excelência, temos equipas de excelência, mas também temos de valorizar, de forma excelente, aqueles que trabalham para os setores desta atividade.

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